A música, muito valorizada nos ofícios religiosos a
partir da Contra-Reforma, desenvolveu-se admiravelmente e
contribuiu, junto com as artes plásticas, para envolver os
fiéis numa emocionante experiência religiosa.
Contrariamente à arte do Renascimento, que pregava o
predomínio da razão sobre os sentimentos, no Barroco há uma
exaltação dos sentimentos, a religiosidade é expressa de forma
dramática, intensa, procurando envolver emocionalmente as
pessoas.
De certa maneira,
assistimos a uma retomada do espírito religioso e
místico da Idade Média, numa espécie de ressurgimento da
visão teocêntrica do mundo. E não é por acaso que a arte
barroca nasce em Roma, a capital do catolicismo.
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Pietá, Gregório Hernandez
(1570-1636).
| A
intensidade dramática do Barroco está bem exemplificada nesta
pintura de Rubens - A queda dos condenados, de 1620.

Queda dos condenados, de Rubens
(1577-1640).
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No alto, Cristo preside o julgamento
final, enquanto, a seus pés, os condenados são
arrastados para as chamas do inferno que se vislumbra
embaixo, no canto direito. Não há um ponto central que
oriente nosso olhar. O turbilhão de corpos retorcidos
ocupa todos os espaços. Os demônios que puxam os
condenados retomam a visão medieval do castigo eterno e
do inferno de fogo. Através da arte, a religião adverte
e atemoriza o espectador.
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Temas Vida x Morte
O tema central do Barroco se encontra na antítese entre
vida e morte. Daí decorre o sentimento da brevidade da vida,
da angústia da passagem do tempo, que tudo destrói. Diante
disso, o homem barroco oscila entre a renúncia e o gozo dos
prazeres da vida.
Quando pensa no julgamento de Deus, foge dos prazeres e
procura apoio na fé. Quando a fé é insuficiente, a atração dos
prazeres o envolve e cresce o desejo de desfrutar a vida.
Por isso, o carpe diem, expressão latina que
significa "aproveita o dia (presente)", é um dos temas
freqüentes da arte barroca. A mocidade ou a juventude é
frequentemente comparada à flor, que é bonita por pouco tempo
e logo morre. Daí, o apelo dos poetas barrocos, como este de
Gregório de Matos:
Goza, goza da flor da
mocidade, que o tempo trata a toda ligeireza e
imprime em toda flor sua pisada.
Ó não aguardes, que a madura idade te converte
essa flor, essa beleza, em terra, em cinza, em pó, em
sombra, em nada.
| Se, na
poesia, a idéia da brevidade da vida fazia aumentar a sede de
gozar a vida, no discurso moralista servia para chamar a
atenção sobre a ilusão dos prazeres e a constante mudança das
coisas do mundo. E se tudo passa, menos Deus, surge a
advertência: é preciso pensar no que pode acontecer depois da
morte.
Este quadro de 1673, do artista espanhol Juan de Valdés
Leal, expressa bem a advertência da Igreja sobre a passagem do
tempo.

In ictu oculi (Num piscar de olhos),
pintura de Juan de Valdés Leal, de 1673, no
Hospital da Caridade, em Sevilha. |
O
título da obra, em latim, é In ictu oculi, que
significa "num piscar de olhos". É um aviso macabro
sobre a brevidade da vida e a chegada da morte, que porá
fim às vaidades terrenas, que nada valem. O esqueleto,
símbolo da morte, está apagando a vela, símbolo da vida.
Seu pé esquerdo pisa sobre um globo terrestre,
expressando a idéia de que ninguém no mundo pode escapar
dela. E as coisas representadas no quadro - coroa de
rei, livros, trajes eclesiásticos, espada - simbolizam
as vaidades humanas (poder, cultura, classe social
etc.), que nada importam no dia do juízo final.
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